11/09/2014

O cão de guarda

       Pelas ruas abauladas do centro histórico de Paraty encontrámos muitos cães, não cheguei a perceber se vadios ou com dono. Para vadios estavam excepcionalmente bem tratados e alimentados, e irradiavam tranquilidade. Eram simpáticos, como todos os seres que encontrámos nesta cidade encantadora.
 
       O final do primeiro dia do simpósio, o único com dois workshops, teve uma deliciosa palestra da Karina Kuschnir, que falou sobre os exercícios de desenho que fez com os seus alunos de Antropologia e Etnografia. Os seus desenhos e estórias são encantadores, vale a pena visitar o BLOG.
       Depois desta palestra disseram-nos para aguardar na Casa da Cultura, daí a pouco iria ter lugar um concerto com uma banda instrumental local, um momento de música e desenho que poucos enjeitaram. Pouco antes de começar perguntei se poderia sentar-me num cantinho do palco, para desenhar os músicos bem de perto. Disseram-me que sim, desde que me escondesse atrás de umas cortinas pretas, tentando não incomodar. Apagaram-se as luzes, apenas ficaram ligadas as do palco, apontando para os três músicos. E eu entretido, a metê-los no meu caderno. Talvez vinte minutos depois alguém puxou a cortina, era a Fernanda Vaz de Campos a segredar-me para irmos jantar. Já passava das nove. Fiz sinal ao João, acenando com a cabeça na direcção da porta da rua. Lembrei-me que estava no sítio mais ruim para sair a meio de um concerto, o palco. Esperei a música acabar, arrumei tudo na mochila e saí de marcha-atrás, a descer do palco e a bater palmas, talvez ninguém tivesse dado conta.
       Saímos dali a correr, fomos para o restaurante italiano onde iria ouvir a deliciosa estória do José Marconi, e do desenho roubado no circo. Saímos por volta da meia noite, eu e o João, rebentados por um primeiro dia muito exigente. Duas ruelas depois chegávamos à Pousada do Sandi, onde o João estava hospedado. À porta estava um daqueles cães vadios de Paraty, malhado de branco e castanho, de patinhas curtas, parecia guardião daquela porta. Abanou alegremente o rabo, correu para o João, que largou tudo para o abraçar, e encher de festas, rebolando os dois pelo chão empoeirado e por entre as pedras arredondadas daquelas ruas.
 
The watchdog:
 
       In the curved streets of the historic center of Paraty I found many dogs, I didn´t understand if they were homeless or not. They looked extremely well treated and fed, and they radiated tranquility. They were friendly, as all beings that we found in this lovely city.

        At the end of the first day of the symposium, the only one with two workshops, we attend to a delightful lecture from  Karina Kuschnir, who spoke about drawing exercises she did with hes students of Anthropology and Ethnography. Her drawings and stories are charming, don´t miss her BLOG.
       After this lecture they told us to wait at the Casa da Cultura, shortly afterwards would take place a concert with a local instrumental band, a moment of music and art that few of us will miss. Just before they start, I asked if I could sit in a corner of the stage, to draw the musicians up close. They told me that I could, since I hid behind some black curtains, trying not to bother. The lights were turned off, only the ones on the stage were on, pointing to the three musicians. And myself, amused, putting them in my sketchbook. Maybe twenty minutes later someone pulled the curtain, was Fernanda Vaz de Campos whispering to me to go to dinner. It was probably nine ó-clock. I looked to Joãopointing toward the front door. I remembered that was in the worst place to leave in the middle of a concert, the stage. I waited the song ended, I packed everything and left reversing, down from the stage and clapping, perhaps no one had noticed.
       We run out, and went to the Italian restaurant where I heard the delightful story of José Marconi, about the stolen drawing from the circus. We left around midnight, me and João, tired by an exhausted first day. Two streets later we arrived at the Pousada do Sandi, where João was hosted. At the entrance door was one of those local Paraty dogs, white and brown, with short little legs, seemed guardian of that door. Happily wagged his tail, running into João, who dropped everything to embrace him, both wiggling around the dusty floor and through the curved stone streets of Paraty.
 

 

 
 

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